Entender a PSTP, a POC e as PP
O psiquiatra Ciro Oliveira escreveu um conjunto de artigos para o Jornal de Mafra onde explorou a natureza, a etiologia e o tratamento de diferentes perturbações mentais. Partilhamos de seguida cada um dos artigos e convidamos à sua leitura:
Perturbação de Stress Pós-Traumático – Publicado em novembro de 2017
“A perturbação de stress pós-traumático (PSPT) é uma perturbação mental que resulta da exposição a uma situação potencialmente traumatizante que condiciona uma sobrecarga dos recursos internos da pessoa e desencadeia um quadro clínico gerador de sofrimento e disfuncionalidade. Evidentemente, um trauma não desencadeia necessariamente uma PSPT em todas as pessoas, dependendo a existência de uma resposta mórbida de diversos fatores internos da pessoa (personalidade, existência prévia de outras perturbações mentais ou fatores neurobiológicos) e ambientais (gravidade e violência do trauma, história da infância e familiar, aspetos culturais ou apoio sócio-familiar).
Historicamente, existem descrições de PSPT desde a Antiguidade, muitos delas resultantes da presença em cenários de guerra. Com o avanço da maquinaria de guerra e a sua maior capacidade de destruição, a ideia de que um traumatizado de guerra era cobarde ou fraco foi dando lugar à ideia de vítima, dada a evidente impotência do soldado face aos meios utilizados. Assim, os primeiros estudos sérios surgem apenas no século XX após a Primeira Guerra Mundial (1914-18), conhecendo um desenvolvimento maior depois da Guerra do Vietname (1955-75). Ainda assim, a PSPT só surge como diagnóstico em 1980, aquando do lançamento do DSM-III (sistema de classificação de perturbações mentais norteamericano). Tal facto permitiu não apenas o reconhecimento — público e na comunidade científica — de uma entidade clínica com enorme impacto pessoal, social e económico, como a criação de um corpo teórico e de investigação que possibilitou dar resposta e alívio às pessoas que sofriam dessa perturbação.” Continuar a ler…
Perturbação Obsessivo-Compulsiva – Publicado em julho de 2018
“A perturbação obsessivo-compulsiva (POC) é uma doença psiquiátrica comum e incapacitante que reduz de forma significativa a qualidade de vida quer da pessoa afetada, quer da família. Manifesta-se em aproximadamente duas em cada 100 pessoas. Na infância é mais comum afectar o género masculino e, na idade adulta, o género feminino, ainda que as diferenças entre os géneros sejam pequenas. Apesar de estarem descritos casos de início abrupto, o início dos sintomas é habitualmente gradual. A idade média de aparecimento ronda os 20 anos de idade, sendo pouco frequente o desenvolvimento de POC depois dos 35 anos de idade.
Se não for tratada, a POC tem uma evolução crónica, sendo a forma mais típica aquela que evolui intercalando períodos de melhoria e de agravamento. Apesar dos sintomas, a pessoa com POC leva, em média, 7 anos até procurar ajuda, pelo que muitas vezes os sintomas estão muito activos e são incapacitantes, o que prejudica o prognóstico.” Continuar a ler…
Perturbações da Personalidade – Publicado em novembro de 2019
“As perturbações da personalidade afetam cerca de uma em cada dez pessoas e diminuem a capacidade da pessoa se adaptar ao meio em que se insere, estando associadas a sofrimento do próprio e dos outros com quem convivem.
Devemos, num primeiro momento, definir personalidade. De forma resumida, personalidade é uma organização dinâmica de conjuntos de comportamentos, pensamentos e sentimentos que é relativamente estável ao longo do tempo e que dá à pessoa o seu caráter único e singular, permitindo-lhe adaptar-se às múltiplas situações da vida. A formação da personalidade depende de determinantes biológicas e genéticas, do desenvolvimento pessoal e do ambiente envolvente.
Exposto isto, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, uma perturbação da personalidadeé um «conjunto de modalidades do comportamento enraizadas e duráveis que consistem em reações inflexíveis a situações pessoais e sociais de várias naturezas. Esses comportamentos são desvios extremos ou significativos das perceções, pensamentos, sensações e particularmente das relações com os outros, por comparação com indivíduos numa determinada cultura». Para que se possa considerar uma perturbação da personalidade, o comportamento da pessoa tem de, necessariamente, causar sofrimento no próprio e em terceiros e diminuir de forma significativa a sua capacidade de se adaptar a diferentes situações da vida, tendo, assim, consequências negativas no seu funcionamento.” Continuar a ler…